Cutuques no solo
- E não te esqueças, meu filho, de se comportar e não sair pra fora de casa à meia-noite e de deixar a porta bem chaveada e valentona tanto interiormente quanto exterior. Como a minha mãe me contou e como a mãe dela contou pra ela, e como eu sempre te digo e para o seu pai: “Do céu escuro lá de cima, pelo meio e espaço vago entre as diversas estrelas, todas as noites despencam braços sem cotovelos nos campos e daqui debaixo resolvem retornar somente com quaisquer criaturas que se descuidaram e mantiveram-se acordados depois da hora de dormir, tanto homens quanto animais” – repetiu para o guri pela terceira ou quinta vez aquela mesma frase a mãe, querendo que aquela regra se fixasse bem dentro da cachola dele, para que nunca saísse de onde se estalasse. E nunca a mãe perdesse seu filho. - E como eles acham os homens e animais, se braços não têm olhos? – retrucou o guri. - Eles procuram pelo tato, tocando o chão e as paredes. Dedilhando tudo – respondeu a mãe sem muito esforço